quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Era uma vez um garoto.
Um garoto muito estranho e encantado.

Ele tinha problemas para dormir, então passava todo o tempo de sua vida sonhando acordado. Perambulava pela cidade, assistindo vidas pequenas de grandes histórias. Ele sussurrava para as árvores seus maiores sonhos, sonhos de reis e tolos, de piratas e navios, de seres da noite e até do próprio homem, o homem que vivia sua vida normalmente, que acordava cedo, dava um beijo de adeus em sua esposa e rumava para o trabalho junto do sereno da manhã.

Tudo aquilo lhe fascinava, e lhe fazia rir e chorar ao mesmo tempo, por que ele podia ouvir as árvores respirando de excitação com suas histórias.

E ele era apaixonado.

Apaixonara-se, pela Lua; uma noite, quando ele andou até a colina mais alta e passou tempo demais olhando para ela, ela sorriu para ele. Eles tinham as conversas mais sinceras. A Lua lhe contara que já havia sorrido para outros rapazes adoradores da noite, que passavam muito tempo a admirando, e todos eles riram do que viram, pois tinham a certeza de que eram somente seus olhos lhes pregando peças.

Mas o garoto se apaixonara.

Ele se declarou para a Lua naquela mesma noite, lhe oferecendo um floco de neve.

“- Mas por que, entre todas as coisas belas no mundo, você me oferece um floco de neve, meu amor?” A Lua lhe perguntou.

“- Porque eles, tão pequenos, e únicos, e belos, surgem do inverno mais bruto e rigoroso. E este é o meu amor por você; tão inusitado quanto um floco de neve”.

“- Então eu lhe darei meus sorrisos guardados em uma caixa. E sempre que você fizer um pedido de seus sonhos, eu sorrirei para você”.

E assim o garoto voltou para casa, com o seu sorriso preferido guardado contra o peito. Naquela mesma noite, ele abriu a caixa; de dentro dela, os sorrisos de sua amada soavam como uma canção antiga, que não pertencia àquele mundo. Ele lhe fez três desejos.

Um era para voar aos céus;

Um era para nadar como peixes;

E o último ele guardaria para os dias chuvosos, se sua amante levasse seu amor embora.

Então ele dormiu, pela primeira vez em muito tempo. E ele sonhou com campos iluminados, céus de baunilha pintados por Monet e águas calmas e límpidas. E a Lua; lá estava ela, materializada em pessoa, de brilho alaranjado, sorrindo para ele. Ele perguntou “Por que você sorriu para mim?” E ela respondeu; “Por que meu brilho refletiu nos seus olhos escuros, e foi tão confortável o calor que eles emanaram, que eu só quis ficar com eles para sempre”. Então ele olhou para os olhos dela. Eram violetas de tons alaranjados, como o crepúsculo. Ela disse “Você está sonhando, garoto”. Mas ele não sentia como se estivesse. Ele piscou lentamente seus longos cílios, e sentiu o gosto que o paraíso teria. Então ele caminhou até ela e desejou;

Uma valsa sob as estrelas;

Não ter amarguras, meu amor;

E tudo delicioso;

E uma consciência limpa;

E que tudo seja êxtase;

E um amor verdadeiro com milhões de beijos;

E delicado e gentil e nunca vicioso;

E o último ele guardaria para os dias chuvosos, se sua amante levasse seu amor embora.


[Escrito às 5h da madrugada de ontem. E eu não sou muito boa com histórias, palavras e fantasias. Mas pareceu fazer sentido àquela hora. Boa sorte e boa noite.]